Este relatório tem como objetivo avaliar como se estabelece a rede de canais produtores de conteúdos em vídeo sobre ASMR no YouTube Brasil e quais são os padrões visuais do nicho. A sigla corresponde a Autonomous Sensory Meridian Response (ASMR), expressão que é traduzida como Resposta Meridional Sensorial Autônoma, em português. A comunidade surgiu em 2007 a partir de uma publicação em um fórum no site Steady Health sobre uma “sensação estranha satisfatória”. O termo em inglês foi cunhado em 2010 pela cientista estadunidense Jennifer Allen após pesquisas a respeito do fenômeno. Desde então, o ASMR vem conquistando espaço no ambiente digital como uma subcultura digital relevante.

A experiência ASMR pode ser descrita como uma sensação de arrepio ou formigamento causada por estímulos sensoriais, que podem ser visuais, auditivos e cognitivos. Lochte et al (2018), baseados em Copeland (2017), descrevem o fenômeno como “sensação de relaxamento normalmente acompanhada de um formigamento prazeroso no couro cabeludo”. Sakurai et al (2023) dividem os “gatilhos” em pelo menos cinco categorias: visualização; toque; sons repetitivos; simulações e sons de boca. Zica (2019) indica ainda 58 tipos de gatilhos populares em vídeos de ASMR, como: sons de madeira, abertura de embalagens, sons de respiração, atenção pessoal, sons de beijo etc.

No YouTube, a hashtag #asmr conta com 18 milhões de vídeos e 1,6 milhão de canais descritos com a tag na plataforma. Já em #asmrbrasil, é possível identificar 13 mil vídeos e 854 canais produtores de conteúdo no YouTube Brasil. A influência do nicho se reverbera para outras plataformas de vídeo populares, como o TikTok. No aplicativo, a hashtag #asmr é mencionada em cerca de 30 milhões de publicações, enquanto pelo menos 24 mil vídeos utilizam a tag #asmrbrasil na descrição. Assim, faz-se necessária a observação deste fenômeno que está em construção.

O crescimento exponencial da comunidade ASMR, observado de 2010 até os dias atuais, representa um fluxo de produção e consumo que funciona em via de mão dupla. Por um lado, o criador de conteúdo entrega vídeos relaxantes ao espectador, que, em troca, concede visualizações, o que pode levar a uma possível, mas incerta, compensação financeira, a depender de quão recíproca é a relação produtor-espectador (MADDOX, 2021). Em um viés mercadológico, o nicho pode ser explorado a partir de seu potencial de consumo, visto que os artistas de ASMR podem monetizar vídeos por meio de anúncios e doações de fãs em live streamings em plataformas como YouTube, TikTok e Twitch.

Além disso, o processo de construção de uma comunidade nichada pode ser fortalecido a partir de plataformas de assinatura para financiamento coletivo, como Patreon, que ampliam as camadas de monetização dos influenciadores. As variações de formatos de conteúdo também oferecem mais oportunidades aos produtores: além de vídeos, os criadores encontram espaço para produção de podcasts ASMR ou integrações em aplicativos de meditação e relaxamento. Assim, faz-se necessária a observação deste fenômeno de inovação que está em crescimento e apresenta potencial econômico emergente.

Os dados utilizados neste relatório foram extraídos do YouTube com auxílio da ferramenta YouTube Data Tools em maio de 2024. A busca inicial tomou como base a palavra-chave “ASMR BR”, que gerou uma lista de 528 canais e 222 arestas de interação entre as contas. A partir disso, foram destacadas 29 contas seguidas por pelo menos outros três canais, o que indica um corte de relevância entre pares daquela rede. Com base nessa lista, foi realizada uma segunda busca, em profundidade dois, que encontrou 8.805 perfis e 131.358 arestas de interação entre canais. Então, foi executada uma análise de redes sociais, com o objetivo de estudar e entender como se constrói a comunidade ASMR no Brasil.

Em um outro recorte feito a partir dos 528 canais encontrados inicialmente, foram selecionados perfis sob os seguintes parâmetros: os dez primeiros canais apresentados pelo YouTube Data Tools com conteúdo em PT-BR, de acordo com ranqueamento gerado pela quantidade de visualizações totais do perfil e grau de entrada > 3. Ademais, foram coletados os metadados dos últimos cinquenta vídeos publicados por cada um dos dez perfis selecionados na etapa anterior, nos quais foram aplicados procedimentos de análise de imagem para as capas de cada publicação.

Este relatório contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com o edital Pró-Humanidades 2022 (Chamada n. 40/2022 – Processo: 420502/2022-0) e o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Processos: E-26/210.865/2024 e E-26/210.871/2024.

 

Acesso ao relatório:

 

 

 

 

EQUIPE:

 

 

COORDENAÇÃO GERAL
Tatiana Dourado, Marcelo Alves, João Guilherme Bastos dos Santos e Ana Júlia Bernardi (Instituto Democracia em Xeque)

 

 

INFRAESTRUTURA E GESTÃO DE DADOS
Marcelo Alves (PUC-Rio|Instituto Democracia em Xeque)

 

 

IDENTIDADE VISUAL
Moara Juliana (Instituto Democracia em Xeque)

 

 

ORGANIZAÇÕES DO RELATÓRIO
Instituto Democracia em Xeque
Laboratório do Núcleo de Tecnologia e Comunicação da PUC-Rio (NuTec Lab)

 

 

COORDENAÇÃO DE PESQUISA – RJ
Arthur Ituassu (PUC-Rio), Marcelo Alves e Caroline Pecoraro (PUC-Rio)

 

 

EQUIPE DE PESQUISA
Branca Rabaça, Camila Cunha, Davi Barcelos, Deborah Sender, Gabriel Vieira, Gabriela Almeida, Lorrana Melo,
Nicholas Berenger e Tiago Sol

 

 

EQUIPE DE COMUNICAÇÃO
Julia Guanabara, Lucas Bevilaqua,
Maria Fernanda Melo, Renato Sales e Sofia Malak