O ex-presidente Lula (PT) e o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) / Reprodução

Na reta final da campanha presidencial, Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), trocam ataques entre si em peças publicitárias impulsionadas no Google. Os dois primeiros colocados nas pesquisas sustentavam uma retórica defensiva e propositiva, agora complementada por um discurso agressivo contra o principal adversário.

No anúncio “Dessa vez, Lula foi longe demais” (Figura 1), a campanha de Bolsonaro (PL) investiu entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, sem nenhuma segmentação, e atingiu aproximadamente 1,5 milhões de exibições. 

Já a peça de Lula (PT), “Conheça Bolsonaro” (Figura 2), foi impulsionada no Google em 14 publicações diferentes com o mesmo conteúdo. No total, o petista investiu por volta de R$ 197,5 mil e teve cerca de 16,3 milhões de exibições.

Ambos os anúncios de ataque ao rival são vídeos. Mas a legislação eleitoral brasileira, por meio do Acórdão-TSE publicado em 1º de julho de 2021 presente no Artigo 57-C (parágrafo 6, inciso 3, julho de 2021), proíbe o impulsionamento eletrônico de conteúdo negativo. A punição prevista é de multa de até R$ 30 mil.

Análise da peça bolsonarista  “Dessa vez, Lula foi longe demais”

Uma fala de Lula – “no ato do Bolsonaro parecia uma reunião do Klu Klux Klan” – é gancho para uma retrospectiva histórica de condenação: a organização é nomeada como “terrorista” e responsável por um “capítulo macabro” na História. Baseado em uma suposta “ausência de negros, pobres e trabalhadores” nos eventos de Bolsonaro, o ex-presidente tentava desqualificar o atual chefe do Executivo pela aproximação do adversário a um grupo condenado pela maior parte da sociedade. Lula, por sua vez, é taxado pela campanha de Bolsonaro como um “mentiroso manipulador”, que dando “gritos roucos de ódio” causou “indignação e repulsa da direita, da esquerda e do centro”. 

O texto é carregado de adjetivos pejorativos lançados sobre Lula: “Brutal, arrogante, leviano e irresponsável”. Cabe ressaltar que não há nem um slogan de Bolsonaro: o presidente só é citado na peça pela fala de Lula. 

Figura 1 – trecho do vídeo “Dessa vez, Lula foi longe demais”.

          Análise da peça lulista “Conheça Bolsonaro”

A peça de Lula (PT) traz uma apresentadora negra que, em frente a um telão, descreve a “verdade” da vida do atual do chefe do Executivo. O ponto de início é a carreira de Bolsonaro no Exército. Apontado como um “mau militar”, o vídeo mostra que o presidente já foi preso por indisciplina. Acusado de planejar explodir bombas em unidades militares em 1987, o presidente apoiou o regime militar e defendeu a tortura, o que é demonstrado com recortes de falas antigas. 

O presidente também é acusado de desonestidade a partir da notícia recente de que a família Bolsonaro comprou 51 imóveis em dinheiro vivo, publicada pelo UOL. 

Afirma-se que o chefe do Executivo está “em outro planeta”, expondo a afirmação dele de que a fome no Brasil “é uma grande mentira”. O paralelo construído é o do agravamento da desigualdade. O “Brasil de Bolsonaro” seria aquele que os pobres fazem fila para comprar ossos, enquanto os ricos fazem fila para comprar jatinhos. 

No fim do vídeo, Bolsonaro diz que o pobre “só tem uma utilidade no país: votar. Título de eleitor na mão e com o diploma de burro no bolso”. 

A peça é encerrada com uma provocação: “O Brasil não merece um presidente assim”. Mesmo sem citar o nome de Lula, o vídeo cumpre o papel de tentar aumentar a rejeição de Bolsonaro, para que, com isso, o petista tenha mais chance de vencer as eleições em um primeiro turno.

Figura 2 – trecho do vídeo “Conheça Bolsonaro”.

 Metodologia

Os dados utilizados foram coletados a partir da Biblioteca de Anúncios da Meta, do Google e do CrowdTangle. A organização e a visualização dos dados foram feitas pela equipe do Observatório das Eleições da PUC-Rio. Por ser um documento sobretudo quantitativo, o que apenas se aproxima da realidade, exige uma análise qualitativa – capaz de maior aprofundamento. 

Expediente Observatório Puc-Rio das eleições 2022:

Alunos:
Luiza Ramalho dos Santos Xavier
Marina Kersting
Danilo Akel
Luis Felipe Azevedo
Sofia Oliveira Pinto de Abreu
Maria Eduarda Gomes Severiano
João Pedro Urbano

Coordenação:
Prof. Arthur Ituassu, Departamento de Comunicação (PUC-Rio)
Prof. Gustavo Robichez, Departamento de Comunicação (PUC-Rio)
Prof. Marcelo Alves, Departamento de Comunicação (PUC-Rio)